Sol e Chuva

Friday, September 23, 2005

Fluxo mental

E a mão dela tocou seu ombro tão pequeno,
Era morno, apesar de haver uma camisa no meio.
Enquanto ele olhava pela janela grande que nunca ousava abrir, pensando na outra janela, pequena, singela que ele abria e soprava a fumaça bem longe. A fumaça era cinza, porem em um tom mais leve de cinza que a rua. Era denso lá fora, mas dentro ele podia respirar calmamente, e seu coração não doía tanto, comparado quando ele estava lá fora.
Um dia ela foi lá. Não à sua procura, mas ela foi lá, e esperava encontra-lo casualmente, mas não o encontrou, pois ele estava escrevendo um poeminha para ela. Lá dentro, em sua escrivaninha, longe da janela. Foi nessa mesma época que ela desistiu dele, notou que ele não era tão bom para ela, e tratava-o como algo fútil, só que ela não pensava mesmo assim.
Ela gostava de ver os olhos dele marejados, quando não, gostava de saber que os olhos dele estavam vermelhos, e tanto insistiu para que ele ficasse de olhos perdidos, e continuasse de olhos ausentes.
Ele iria dizer que é por esse motivo somado a outros, que ele a enterra displicentemente em seu quintal. Sem cerimônias, só algumas lagrimas escorreram enquanto ele lia deitado na cama. Pois notou que o autor do livro descrevia varias coisas que aconteceram com ele, como se tivesse visto as coisas. O autor viu, mas foi a 30 anos atrás. E eles ainda eram sonhos. Ele não estava triste quando chorou, foi algo mais físico, pois seu corpo precisava cuspir e beber aquelas lagrimas, antes de mentir para si mesmo que a enterraria pela ultima vez. O erro que ele sempre cometeu é não cortar nenhuma parte de sua e deixar ali em cima, como se fosse uma cruz, pois ele se apegou tanto à ela, que tudo que ele era lembrava-a. Por isso, ela vai levantar ainda muitas outras vezes para faze-lo saborear o odor da putrefação que há nele, que a enterrou, e o perfume adocicado dos cabelos dela, que ele só pôde absorver algumas poucas vezes, pois tinha medo de toca-la. Mas não medo dela, na verdade é que ele tinha medo de suas próprias mãos. Que já tinham tocado peitos e rostos sujos. E ele continuava jogando areia imaginária por cima de seu busto nu em seu quintal imaginário. A tarde ia descendo, e a noite, subindo. Ele apreciava tudo aquilo, apesar de saber que já era madrugada, e estava completamente escuro naquela rua cinza, já fria, sem odores.
Um cachorro de rua corria, atravessando-a. O cachorro era triste, e mais triste do que ele e ela juntos.
Ele acendeu outro cigarro na ponta do anterior, soprou longe e languidamente em direção a rua, pela janela pequena.







Renan Távora

Thursday, September 01, 2005

Poeminha 2

Nessas tardes que você perambula como um zumbi desconhecido por aí,
Sem rumo, sem meta,
E vê quão e quanto o mundo é bonito, sobre a grama intensamente verde.
Mas você nunca percebe os passarinhos procurando migalhas.
Aí lhe vem uma lagrima ao rosto.
Você nunca reparou o quanto a grama era verde, e os pássaros bonitos, e muito menos, que esse lugar é ao lado de sua casinha, mas viajava milhas e milhas atrás de encontrar um lugar bonito, e pessoas decentes. Mas também nunca reparou no sorriso sincero que a garçonete lhe dava sem cobrar nenhum centavo.
É, a vida é esquisita, talvez como aquele homem que fuma enquanto come uma maça.
O tempo passa, (e como) e aí, vamos perdendo essa incrível sensibilidade que tínhamos antes.
Mas não devemos ter vergonha de chorar, muito menos de sorrir.
Chorar pelo cachorrinho de rua que acabou de ser atropelado, ou sorrir da criança e sua profunda inocência, que a protege do maior perigo da vida: O amor.

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Estou atualizando o blog em muito tempo,
apesar de acreditar firmemente que ninguem
entra aqui, mas eu nem me importo mais.
Esse poema (pra variar) é antigo, e eu gosto
muito dele (pra variar tambem).